sábado, 5 de novembro de 2011

Sophia de Mello Breyner Andresen – Uma vida de poeta

Sophia de Mello Breyner Andresen – Uma vida de poeta

No dia 26 de Janeiro ocorreu a cerimónia de assinatura do Termo de Doação do Espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen pelo Director da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), Jorge Couto, e pelos filhos da Poetisa. Seguiu-se a exposição que dá nome a este texto e uma leitura de poemas por Beatriz Batarda e Luís Miguel Cintra,
Foi uma cerimónia comovente, sobretudo quando a filha, Maria Andresen, explicou como descobriram parte do espólio, que estava guardado no fundo de uma arca, bem como o processo que levou à concretização da sua doação e da dor de separação que naturalmente esse acto acaba por trazer aos seus filhos.
Miguel Sousa Tavares, num discurso brevíssimo, porque, como disse, a sua mãe detestava discursos e formalidades desse género, referiu que o acto de doar o espólio foi natural e pacífico entre os irmãos, porque têm consciência que Sophia não é apenas mãe deles, mas pertence a milhões de portugueses que despertaram para a literatura através dos seus contos e sabem de cor os seus poemas. No final, referiu ainda que “sabe bem doar alguma coisa ao Estado”, porque “quando se recebe muito é bom devolver algo à sociedade”.
Na cerimónia estiveram presentes, além de muitos amigos e admiradores da poetisa, que encheram por completo o auditório, a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, o Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, bem como personalidades conhecidas e amigas da família, como Eduardo Lourenço, Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, Guilherme d’ Oliveira Martins, Artur Santos Silva, Mário Soares, entre muitas outras.
Todos eles salientaram a importância da obra e vida da poetisa, mas também o “lado luminoso” na actividade cívica. Sempre ao lado do marido, Francisco de Sousa Tavares, que chegou a ser preso pela PIDE, Sophia foi uma companheira presente e activa pela causa da liberdade, revelando uma grande coragem moral nas suas acções.
A Ministra reforçou o sentido de cidadania e partilha da família que conseguiram compreender a poeta para além da mãe e que Sophia é uma das mais nobres embaixadoras da cultura portuguesa. O director da BNP realçou a importância do dia presente, pois “é o dia em que Sophia vai passar a ser um pouco de todos nós e a transformar um pouco mais quem por ela se deixar tocar”.
Pelos amigos foi dito que a sua poesia evidenciava a sua alma, numa linguagem límpida e depurada, mas também voltada para realçar tudo o que tem de maravilhoso a vida, a beleza e as coisas que muitas vezes não valorizamos. Mas também foi uma pessoa de denúncia e pressão: “Perdoai-lhes Senhor, porque eles sabem o que fazem”, nas suas palavras.
“Este acto não foi apenas um acto cultural mas também um acto poético”, referiu nas suas palavras sábias Eduardo Lourenço que se dirigiu aos presentes como “amigos de Sophia” e aos poetas presentes como “irmãos de Sophia”. Declarou-se deslumbrado pela beleza de Sophia e da áurea que dela emanava. O que mais o encantava na amiga era a ideia que ela tinha da poesia. Uma poesia que faz parte da história da vida e não da vida da literatura, a poesia como essência de vida.
Gonçalo Ribeiro Telles falou do mar de Sophia, “mar infinito que começa perto e é longe”. Nela, o amigo viu a transparência transformada em verdade e terminou, dizendo: “Obrigado, Sophia. O futuro de Portugal pertence-lhe. Obrigado”.
Não posso acrescentar mais nada às palavras que já foram ditas sobre Sophia. Apenas os convido a visitar a exposição presente até 30 de Abril, na BNP. Lá terão a bênção de serem tocados pela poeta e de sentirem a poesia revelada em estórias e coisas e momentos e emoções em amor, fúria e raiva… em vida.

Anabela G.
In Jornal Renascimento, publicado a 15 de Fevereiro de 2011 e http://www.eacfacfil.net/

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