quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O mundo também é de quem sente?

O mundo também é de quem sente?

Um destes dias um amigo confidenciou-me que muitas das suas convicções estavam a ruir como madeira verde sobre os seus pés e isso estava a afectar toda a sua vida. Tinha visto um documentário sobre as oportunidades num determinado país e a ideia de partir emergia insistentemente na sua cabeça.
Como por acaso ou talvez não, surgiu-me uma reflexão do neuropsicólogo Nelson Lima que lhe dei a ler e a partilho aqui.
TER CONVICÇÃO é muito importante para tomarmos decisões mas pode não ser suficiente. Este é um dos dilemas com que muitos de nós, ao longo da vida, nos deparamos. Vejamos. Toda a gente sabe que certos alimentos causam problemas de saúde como, por exemplo, o açúcar. Infelizmente, a convicção não faz com que as pessoas se preocupem o suficiente para agir. Para passarmos da convicção à acção temos de nos INTERESSAR. Sabe o que é o Efeito de Madre Teresa? As instituições de caridade conhecem-no. É assim: é mais fácil interessar as pessoas a ajudarem uma causa específica (por exemplo: as vítimas reais de um terramoto) do que algo abstracto (por exemplo: a pobreza). O que faz a diferença? As EMOÇÕES. É perante situações concretas que somos mais facilmente tocados e passamos à acção.”
Uma ideia, por exemplo, conjugada com uma imagem forte sobre a mesma, provoca na nossa mente uma convicção. A imagem forte pode ser o fruto da nossa imaginação agitada, influenciada pelo pensamento. Tudo isto pode resultar de estados negativos ou positivos, ser provocado pelas desilusões ou alegrias, fracassos ou progressos.
Normalmente, as convicções arrastam-nos para posições mais ou menos veementes e procuramos tudo fazer para as pôr em prática, minimizando tudo aquilo que se lhes opõe, valorizando cada ponto a seu favor.
Sabendo que a vida é feita de convicções, já se está a ver a importância das emoções, no fundo condicionam as nossas convicções, dado que não vivemos sem elas. Aliás, Ortega y Gasset já dizia que a própria vida é absoluta convicção.

Passamos à acção com base nas nossas convicções, somos influenciados pelas emoções… que são tão mais fortes quanto mais concretas elas se nos afiguram. Isto não é simples de exprimir, não… E para complicar ainda mais deixo-vos com um pensamento de Fernando Pessoa que diz que "toda a emoção verdadeira é mentira na inteligência, pois se não dá nela. Toda a emoção verdadeira tem portanto uma expressão falsa. Exprimir-se é dizer o que se não sente”. Ah, e disse também que o mundo é de quem não sente
Ah, o meu amigo já decidiu… E dá-se ao luxo de discordar de Fernando Pessoa. O mundo também é de quem sente, disse ele. Eu diria antes: o mundo é mais meu quando sinto.

Anabela G.
In Jornal Renascimento, 2011 e http://www.eacfacfil.net/

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