quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os enigmas de Wittgenstein II - O mundo é tudo, a questão é essa…

Continuando com a conversa anterior sobre Ludwig Wittgenstein. Não esqueçamos que existiram duas fases diferentes na vida do pensador. Uma resultou na publicação de Tractatus Logico-Philosophicus, o seu primeiro livro, e outra, bem diferente, relatada em Investigações Filosóficas, publicada postumamente.
Terminámos a conversa anterior com um pensamento do autor sobre a Filosofia: não evoluiu nem um bocadinho desde Platão: “Será que isso se deve à inteligência de Platão”? Será…
E o que será que está por trás de simples palavras, como “este ananás é muito agradável”? O pensamento? E que pensamento subjaz à frase? Imaginamos o sentido do que dizemos como sendo estranho, misterioso, oculto do nosso olhar. Mas nada está escondido. Está tudo à vista! Os filósofos é que turvam as águas…
À primeira vista parece que Wittgenstein odeia a filosofia. Chega a dizer que a Filosofia não explica nada, não resolve qualquer problema do mundo.
Há problemas linguísticos, matemáticos, éticos, logísticos e religiosos, mas não há problemas genuinamente filosóficos. A filosofia é apenas um subproduto de uma incompreensão da linguagem, busca a essência do sentido. E tal coisa não existe, segundo o autor chegou a reflectir. Inútil a Filosofia? Para Wittgenstein era mais uma terapia.
Mais curiosa era a sua visão, segundo a qual a Filosofia era uma alma que estava prisioneira dentro do próprio corpo, sem contacto com os outros devido às barreiras impostas por terceiros. E ele queria libertar-se dessa prisão… porque não há nenhum significado especial. Somos aquilo que somos, porque partilhamos uma linguagem e uma forma de vida comum. Contudo, não deixa de dizer que, importante na Filosofia, é aquilo que ela pode questionar, articular, posição completamente contrária à que tinha defendido na sua “primeira” filosofia em Tractatus Logico-Philosophicus.
Muito mais há para dizer sobre Wittgenstein. Por isso aguardamos ansiosamente o resultado das investigações sobre a recente descoberta de um espólio em casa de um dos seus alunos. A sua forma de fazer filosofia, se assim lhe podemos chamar, cativa, não só devido às questões que levanta, mas, porque partilha connosco de um modo muito próximo as suas inquietações. Com ele partilhamos um mundo inquietante onde o enigmático, a dúvida, se misturam com o conhecimento. Porque ele próprio proclama que sem dúvida não há conhecimento.
E qual é o autor que não fascina quando afiança que não há enigmas…se algo pode ser equacionado também pode ser respondido?
O mundo é tudo, a questão é essa, diz-nos. E nisso, não ousamos duvidar…

Anabela G.
publicado in Jornal Renascimento e http://www.eacfacfil.net/

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