segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O verdadeiro amor, segundo Wislawa Szymborska

Há verdadeiros momentos de magia. Por exemplo, quando descobrimos palavras que nos iluminam a alma. Como este poema, O verdadeiro amor segundo Wislawa Szymborska, Nobel de Literatura em 1996.

Não resisto a partilhar convosco.

O verdadeiro amor. É normal, é sério, é prático?
O que é que o mundo ganha com duas pessoas que vivem num mundo delas próprias?

Colocadas no mesmo pedestal sem mérito nenhum, extraídas ao acaso entre milhões, mas convencidas que era assim que tinha de ser - em prémio de quê? De nada.
A luz desce de qualquer lado.
Porquê nestas duas e não noutras?
Não é isto uma injustiça? É sim.
Não é contra os princípios estabelecidos com diligência e derruba a moral no seu cume? Sim, as duas coisas.

Olha para este casal feliz.
Não podiam ao menos tentar esconder-se, fingindo um pouco de melancolia, por cortesia com os seus amigos?
Ouçam como riem - é um insulto a linguagem que usam - ilusoriamente clara.
E aquelas pequenas celebrações, rituais, as mútuas rotinas elaboradas - parece mesmo um acordo feito nas costas da humanidade.

É difícil prever a que ponto as coisas chegariam se as pessoas começassem a seguir o seu exemplo.
O que aconteceria à religião e à poesia?
O que seria recordado? Ou renunciado?
Quem quereria ficar dentro dos limites?

O verdadeiro amor. É mesmo necessário?
O tacto e o silêncio aconselham-nos a passar por cima dele em silêncio, como sobre um escândalo na alta roda da vida.
Crianças absolutamente maravilhosas nasceram sem a sua ajuda.
E ele chega tão raramente que nem num milhão de anos conseguiriam povoar o planeta.

Deixem que as pessoas que nunca encontraram o verdadeiro amor continuem a dizer que tal coisa não existe.

Com essa fé será mais fácil para eles viver e morrer.

Ficaram maravilhados como eu? Aqui está uma bela maneira de começar o ano. Quando se fica de alma cheia com um verdadeiro amor. Pelo sentimento. E pelas belas, perfeitas, palavras deste poema cheio de graça e génio…

Anabela G.
Publicado in Jornal Renascimento

4 comentários:

  1. Sim, Anabela. Fiquei maravilhada como você. Há quem passe pela vida negando o verdadeiro amor, por nunca tê-lo vivido. Mas também há quem, mesmo tardiamente, o conheça e se espante com tamanha felicidade!

    De qualquer maneira, vamos dar-lhes o direito de escolha. Se contamos ou não.

    Abraços da Mila Reis

    PS: Vim até aqui pelas mãos do Antonio Tavares.

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  2. Ainda bem, Pitanga Doce. Que se maravilhou, como eu. Eu adoro este poema, leio-o uma e outra vez e de cada vez me maravilho mais...

    P.S: Adorei o seu "vamos dar-lhes o direito de escolha. Se contamos ou não".;)
    Quanto ao António Tavares é director do meu jornal, Renascimento. É graças a ele que estes "escritos" vêm a luz do dia...

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  3. Boa noite, Anabela. Creio que o Renascimento saiu ontem, mas para mim só deve chegar aqui ao Rio de Janeiro na semana que vem.
    Gosto do que escreve.

    Abraços da Mila Reis.

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  4. Olá Mila, também gosto de a ler, não sabia que a Pitanga Doce era a Mila!

    Então somos da mesma "equipa" ;)
    Abraço para si!

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