quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um Natal com menos, mas mais Natal…




O Natal, mais uma vez. Todos os dias é Natal, alguém disse, mas em Dezembro, lembramo-nos que realmente é Natal. Todos os anos o Natal é diferente, de uma forma ou de outra, porque cada um tem consigo as marcas do tempo que o sucedeu.
Dizer que este Natal é difícil soa-me a repetição de muitos outros Natais. Os tempos estão difíceis, sim, mas tantos anos houve que eles estavam igualmente difíceis… Este ano está mais? Sim, provavelmente, para mais pessoas, mas em todos os outros Natais as dificuldades acompanharam a vivência de tanta gente! Mas um Natal com menos, pode ser um Natal melhor. Quem o diz é Frei Fernando Ventura, que reflectiu sobre este Natal e do qual vos deixo aqui uma parte da sua reflexão que pode ser lida na íntegra do site da Agência Ecclesia.

"Ser hoje luz num tempo de sombras, parece ser o “destino” de cada um de nós no tempo que passa, num tempo que passa e que dói, que dói esta dor funda da impotência, da impotência diante dos gigantes das sombras que se agigantam e que parecem querer tomar de assalto tudo o que mexe, tudo o que respira e tudo o que sonha. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor! O mundo, o país e cada um de nós, vive tempos de esperança e de mudança, em que o novo surge como a nova fronteira a conquistar, mas onde o medo e os medos teimam em formar barreira diante dos olhos, destes olhos feitos para ver a luz, feitos para encarar o medo, feitos para não terem de ver o sol só reflectido nos charcos. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor! Se calhar, a maior conquista do tempo do medo que passa, foi precisamente esta de nos ter tirado a capacidade de ousar levantar a cabeça, de ousar olhar para além do imediato do já, em direcção ao menos “imediato” do ainda não, mas que está e vive em tensão de devir, de futuro, de projecção para diante, num diante que encontra a utopia e faz dela o sonho, um sonho que vence o medo, um sonho que se abre à luz. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor! É por aqui que passa o segredo, este segredo que invejosamente levamos dentro sem partilhar, que envergonhada e pudicamente escondemos e que não conseguimos dar à luz e que nos faz gemer, gemer as dores do parto que tarda, gritar o grito das vozes caladas. Por isso hoje é tempo de NATAL com menos, mas um Natal melhor! E no entanto, a gravidez do tempo existe, as dores do parto afligem-nos, o nascimento tarda em acontecer, e o meu povo sofre, e a minha gente grita, o grito surdo que a voz rouca não é capaz de calar, mas que o medo embota, e que o desespero não deixa encontrar a paz (…)”

Esta crise que acompanha o Natal, também é uma crise que nos acompanha dentro de nós mesmos, dentro do nosso nós mais interior, aquele em que gritamos connosco e nos faz pensar e dizer basta tantas vezes. E desta vez também podemos dizer um basta de não saber quem somos, o que fazemos num mundo tão explorado e igualmente manipulador, em que somos arrastados pela torrente avassaladora dos acontecimentos que nos esmagam e fazem doer, porque ao olhar em volta vemos dor e sofrimento no olhar do outro e em nós esta dor é tão, mas tão semelhante, porque a crise começa no meu eu, na minha génese de ser quem sou.
Vamos aceitar o desafio de Frei Fernando Ventura e dizer NATAL, porque é um Natal com menos, mas pode e deve ser um Natal melhor. Vamos olhar para o esplendor do Natal das luzes e decorações douradas e coloridas e interiorizar esta beleza dentro de nós próprios, para que o Natal seja realmente sentido em todos os sentidos, para que possamos sentir um Natal dentro de nós, mas em direcção ao outro, que esquecemos numa lembrança tão ilusoriamente oferecida no nosso mais superficial gesto de dar um presente, não porque é Natal, mas porque é mais um Natal…
Vamos fazer um Natal com menos, mas mais Natal, porque verdadeiramente é Natal lá fora e dentro de nós, hoje e eternamente Natal. Feliz Natal todos os dias! 

Publicado in Jornal Renascimento e http://www.eacfacfil.net/

2 comentários:

  1. Estou-lhe muito grato por partilhar as suas reflexões connosco. Tem um dom excepcional para a escrita, continue.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada! Fico grata pelas suas palavras. Espero que continue a gostar... Festas Felizes para si.

    ResponderEliminar