segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Já não há tempo?

Já não há tempo?

Há dias assim… dias em que nos apetece desligar o interruptor e mergulhar no silêncio, no vazio da nossa alma. Deixar de ouvir os lamentos de todos os dias, as notícias de mais uma catástrofe que deixou seres como nós sem tecto e sem comida, de uma guerra fratricida que assassina vizinhos, amigos e irmãos, de uma crise instalada que nos fulmina todos os dias com mais um caso que nos faz duvidar do dia de amanhã, de uma manhã de trabalho que nos esgotou as forças de um dia inteiro…

Há dias que já não se aguentam. Dias em que não vislumbramos o sol, dias que duvidamos que Deus existe. Dias que em que protestamos vivamente, como Al Berto:  deus tem que ser substituído rapidamente por poemas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.
 É quando perdemos o tempo. Já não sabemos onde está, ou, pior ainda, para que o queremos. Ele escapa-se-nos das mãos. Ouvimos, mas não sentimos. Guerra? É tão lá longe… Crise? Está tão instalada que mais uma notícia é só mais uma notícia. O tempo esgota-se em cada má notícia, os dias esvaiam-se numa sucessão de segundos onde estamos onde não queremos, fazemos o que não projectamos, sentimos o que não desejamos. 
E, num repente, dá-mos connosco a pensar: mas já não há tempo...

— Bom dia - disse o principezinho.
— Bom dia - disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas que acalmam a sede. Toma-se uma por semana e deixa-se de sentir qualquer necessidade de beber.
— Por que é que vendes isso? Perguntou o principezinho.
— É uma grande economia de tempo, disse o vendedor. Os peritos fizeram as contas. Permite poupar cinquenta e três minutos por semana.
— E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?
— Faz-se aquilo que se quer...
«Eu, disse para si mesmo o principezinho, se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, caminharia muito lentamente para uma fonte...»

Saint-Exupéry  tinha tempo. E nós teremos? Eu gostava de ter tempo para me contarem uma história… ouvir uma música dentro do silêncio, ter um sonho nas páginas de um livro… Porque como dizia José Jorge Letria,

Os livros são a metade /Dos sonhos que tu tens,/São a tua liberdade/ E o maior dos teus bens,/Porque tendo a tua idade/Têm tudo o que tu tens.

Anabela G. e http://www.eacfacfil.net/

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